terça-feira, 10 de janeiro de 2012

e a chuva cai....

Dispo-me quando quero encontrar-me ... - Haikai de Alma Welt

Sem obrigatoriamente a sensação de começo, aquela que a maioria tem ao iniciar um novo ano... sem promessas.
Mas um começo diário, uma busca incessante, um olhar novo para cada objeto, para cada pessoa; um ouvir novo para cada som e silêncio...
Tentanto fazer diferente. Inovar, ousar, simplificar - isto sim o mais complicado.
Com o coração cheio de paz, de leveza e alegria. Um novo amor, um novo trabalho, novos sonhos e projetos.
2012. Torcendo pelas pessoas que verdadeiramente amo; das mais frágeis às mais fortes. Amando as frágeis, admirando as fortes.


Pintura de Montse Waldés

terça-feira, 9 de agosto de 2011

... a vida leva e traz... a vida faz e refaz.

"...a vida leva e traz... a vida faz e refaz. Será que quer achar sua expressão mais simples?"


Após turbilhão de acontecimentos (previstos), mas não menos avassaladores... refaçamos.
A vida se refaz, e cotidianamente, leva e traz. Traz uma brisa nova, inesperada, leve... e a leveza é o que nos faz entender o peso...
Confesso que nos últimos dias frios e ensolarados desse inverno, a vida tem me trazido pessoas e emoções inexplicáveis.
Traz pra dentro de mim novamente a sensação de vida, de alegria, do inimaginável e a contemplação aos mínimos detalhes dos dias.
Trouxe-me pessoas encantadoras, que vieram pra turbilhar meus pensamentos e como uma brisa leve, mas decidida - os levou.
Levou-me pessoas já desencantadas, que se foram pra que a leveza voltasse.
Assim, construindo, refazendo, vou encontrando aqui um olhar brilhoso, buscando acolá um sorriso largo... e a vida se refaz... simplesmente assim.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

uma transformação, talvez... um final

todos os dias, quando acordo,
só penso em fazer aquilo que tenho vontade, somente isso...

Essa frase é da Maysa.

Acho que ela diz e traduz um sentimento real e íntimo da minha vida.
Fecho nesse momento, um ciclo importante da minha vida.
Uma história de amor que não se acabou, apenas se transformou em outro algo.
Desde pequitita ouvi dizer que existia um tal de amor. Desses amor entre casais...
Aprendi então, como tantas outras meninas/mulheres, a idealizar uma forma de amar específica, voltada ao amor entre casais.
Daí fui crescendo, aprendendo a amar, porque amar só se aprende amando, e fui descobrindo que sofria. Sofria muito quando amava.
Passei dias e noites chorando ao som de Chico, especialmente, porque ele fala de amor como nenhum.
Lamentava, chorava, me desesperava. Por que? por que? por que?
Mas a gente, queira ou não, amadurece. Tem pessoas que amadurecem pouco. Tem outras que amadurecem muito! Eu me permito amadurecer um pouco. Pra também não perder aquele gostinho de  novidade, de ilusão etc etc... e ficar com aquela cara e postura de gente madura. Cansa!
Amadurecidinha, percebi que quando a gente ama verdadeiramente uma pessoa, o amor não morre. Ele se transforma.
Os bonitos, se transformam em mais beleza, mais proximidade, e o segredo: descompromisso, liberdade, curtição.
Amei. Amei mais do que pude. Continuo a amar. Mas agora mais e melhor. Porque agora, descobri que não existe aquele amor idealizado, machista até, que eu aprendi quando menina e que tentei ter na mocidade.
Agora sei que o amor é feito diariamente, construido, talhado. E que pra amar é preciso aceitação.
Despreendimento, incondicionalidade.
Eu me arrisco em dizer que esse é o melhor amor que existe.

Sei lá, né, até aparecer outro amor e .... kkkkkkkkkkkkkkkk

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

um reencontro


"Inútil querer me classificar, eu simplesmente escapulo não deixando. Gênero não me pega mais."

Disse isso nossa admirável Clarice Lispector.
Mas bem poderia ter sido criada e dito por Vanelly Padovani Baptista.
Essa menina, de olhos coloridos, bicolores, um olho super marrom e outro verde.
Ela. Ela. Ela.
Ela surgiu na minha vida quando eu era uma adolescente querendo ser cada dia mais doida...
Ela entrou de um jeito íntimo e manso. Daqueles íntimos que voce fica desconcertada e acredita piamente que já conhecia aquela pessoa. De uma leveza e honestidade assustadoras. Construimos o início de nossa amizade.

Ela sumiu. Voltou a ser a "garota de Bauru". Foi construir sua vida. Nos perdemos.
Mas um dia, sem querer eu a reencontrei. De imediato a peguei, guardei dentro de mim, bem escondidinha pra ela nunca mais se perder de mim.

Nos falamos como se estivéssemos nos falado ontem. O ontem tinha sido há 12 anos!
Demos risadas, vimos se estamos muito embarangadas, contamos nossas dores e alegrias.
Hoje somos íntimas, próximas, grudadas, siamesas.
Ela, a Vanelly, me ensinou e comprovou o tal do amor incondicional que eu, ingenuamente - supunha existir somente com filhos.
Mas não é que essa menina de olhos coloridos me mostrou e provou que não?!

Melhor pra nós....

E pra comemorar, sem perder a ternura jamais, vamos beber muita cerveja!!!! quer vir???

sábado, 8 de janeiro de 2011

para uma moça que descontruiu seu castelo para construir uma casa real

Preciso começar com citações enxarcadas de sabedoria, bondade e sublimação do Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. Depois sigo com minhas humildes palavreações...

"Olhar para trás após uma longa caminhada pode fazer perder a noção da distância que percorremos, mas se nos detivermos em nossa imagem, quando a iniciamos e ao término, certamente nos lembraremos o quanto nos custou chegar até o ponto final, e hoje temos a impressão de que tudo começou ontem. Não somos os mesmos, mas sabemos mais uns dos outros. E é por esse motivo que dizer adeus se torna complicado! Digamos então que nada se perderá. Pelo menos dentro da gente..." (Guimarães Rosa)

"Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difí­cil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra. (Guimarães Rosa)


Os Três Mal-Amados
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

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Essa moça, ainda menina, com rosto de um filme antigo, que vai mexendo no coração da gente, vai abrindo aquele bauzinho secreto que temos lá no fundinho ,
e que, quando nos damos conta, ela nos arrebatou com sua doçura triste, sua brancura melancólica...

ela vivia num castelo lindo, rodeado de vidros intransponíveis... mas se meteu a sair dele, cair no mundo.
Resultado: o castelo ruiu, a redoma se estilhaçou e ela ficou a andar, andar, andar, girar, girar, girar procurando seu mundo de sonhos, de poesia e proteção.
Ainda não sabe: mas nunca mais o encontrará, porque quando isso se desfaz nunca mais é refeito.

Bem vinda à casa real, ao mundo das ilusões perdidas.
Mas agora muito bem acompanhada pela vida real....